quinta-feira, 17 de setembro de 2015

I - ADENTRANDO O ASSUNTO



Prof. Dr. Antônio do Carmo Ferreira




        Durante alguns anos, pouco mais que uma década, exerci atividades educacionais, inicialmente como professor e, posteriormente, acumulando funções de professor e dirigente escolar, estando em regime de tempo integral e dedicação exclusiva ao encerramento deste ciclo de atividades no campo da educação em Universidades do setor privado e do setor público do governo federal. Foi um tempo em que o Brasil dispensava grande consideração ao planejamento, especialmente na região nordeste, onde, por coincidência, eu trabalhava e em cuja especialidade fiz graduação e adquiri experiência. Minha formação acadêmica, portanto, não era para o magistério e sim direcionada para funções técnicas. O exercício do magistério, no entanto, presenteou-me com uma experiência muito rica, ao me prover de material para longas reflexões que as tenho repetido vezes sem conta, e que sempre me acodem com lições valiosíssimas.

        O entendimento é que precisamos sempre de não somente aprender a fazer, mas também aprender a viver. A vida é um presente de Deus e como tal deve ser tratada. Envolta de felicidade e utilizada como um instrumento de tornar o próximo feliz. A educação vemo-la por esta ótica. Um processo de acréscimos, de transformação e de aperfeiçoamento. Transforma-se uma pedra bruta em polida. E esse estado de polidez não se finda, apresenta-se insatisfeito, querendo mais, requerendo um estágio superior de maior brilhantismo. A educação é o processo de que se vale a humanidade para esta revolução.

        Aprender e ensinar, na escola, ou fora de seu recinto, são meios requeridos pela educação. Aliás a educação transcende a escola. A formação da cidadania começa no seio da família, e depois da escola continuamos nos educando. O mestre Ruy Barbosa nos chama a atenção para este aspecto ao observar que “a pátria é a família amplificada”. A pátria mal servida, maculada pela corrupção, negada em suas convocações para o progresso, tudo isto pode ter raízes na omissão da família que não teve a responsabilidade de plasmar a conduta de seus filhos no sentido do bem. Ou não ligou para ensinar-lhes os bons costumes pela palavra e ou pelo exemplo, ignorando a sabedoria popular de que “o costume de casa vai à rua”.

        Educar para a cidadania é uma obrigação de todos nós, seja na escola ou fora da escola. Cada pessoa, entendida como templo de Deus, dELE imagem e semelhança, tem essa missão cidadã: buscar a felicidade para si e para o próximo. Além dos projetos da sociedade a que pertence, seja civil ou governo, cada pessoa deverá assumir o seu projeto pessoal de ser útil.

        Estamos acostumados, no entanto, a observar a educação sob outro enfoque. A educação que se adquire, não com a prioridade da utilidade do viver, mas com a finalidade do fazer. Aí a escola tem tudo a ver e se inscreve como um bem necessário e indispensável. Esta educação tem o selo orteguiano da “circunstância” e para alcançar o êxito a que se propuser dependerá do envolvimento de todos: governo, família, sociedade, organizações. Responde aos chamamentos do progresso, sendo este uma missão de caráter divino, pois que a pessoa ganhou a vida não para o ócio e sim para a ação. A própria multiplicação da espécie atesta essa missão. A população cresce e exige proporcionalmente o crescimento quantitativo de bens e serviços, para, no mínimo, garantir a sua sobrevivência.

        Vivemos “o desafio de nosso tempo”, como advertiu o historiador Arnold Toynbee, em que as novas descobertas têm atropelado os anos em seus surgimentos: antes milhares de anos, hoje questão de dias entre uma e outra. Mais ainda: as armadilhas da globalização agravando tudo. As respostas a esses “desafios” estão na competência da educação. Antes, acontecia a geração do posto de trabalho, para ser ocupado por um profissional senhor da tecnologia nacional, para produção de bens protegida por barreiras nacionais. Agora, não. O “mundo é uma aldeia global”, como colocou Marshal MacLuhan. Caiu a barreira protecionista e a exigência tecnológica terá que atender ao mesmo padrão do local e de alhures. Isto quanto ao produzir, sendo exigida também a equalização do saber para usar aquele bem. Tudo e em pouco tempo estará mundializado. A educação terá que atender a padrões internacionais, como também e pelas mesmas circunstâncias terão as empresas produtoras de bens e serviços.

        Inclui-se neste espaço dos desafios, e é importante que não esqueçamos disto, o alerta que nos fez a escritora Maria Lúcia de Arruda Aranha sobre o que chamou de “educação permanente”. Temos que pensar nisto, que a rápida evolução tecnológica estará sempre exigindo nosso retorno à escola. Novos produtos e novas maneiras de produzir ensejarão, decerto, novas profissões e obviamente a extinção de outras, de modo que “ninguém mais pode se formar em alguma profissão para o resto da vida”.

        Fico a pensar que o maior gesto de amor à Pátria será a contribuição, para que o analfabetismo entre nós seja extinto. Sobre este assunto quero louvar a decisão governamental de pautar a ação em seu projeto de lei, já enviado à Câmara, com a redação “Art 2º São diretrizes do PNE – 2011/2020: I – erradicação do analfabetismo”. E quero dizer mais que ao mesmo tempo em que se discutisse o PNE, o povo brasileiro deveria colocar uma pedra irremovível sobre esse mal, exigindo do Congresso e da Chefia do Poder Executivo Federal a revogação do dispositivo de lei que concede ao analfabeto o direito de votar.

        A educação brasileira terá que acompanhar o projeto Brasil, através do qual o País pretende igualar-se às nações desenvolvidas em poucas décadas. Quer dizer, não é acompanhar lerda e distantemente, é acompanhar envolvido “lutando e pelejando”, fazendo, com a mão na massa. Para isto dependeremos da escola e dos cursos que sirvam de base e formem o profissional. Dos mestres estimulados a esse mister e compensados por isto. E das organizações que acompanhem e cobrem a colimação das metas. Fora dessa calha, debalde será qualquer esforço, resultando em desperdício de recurso e frustração.

        Para atingir esse objetivo, consta que a educação brasileira padece de graves percalços em todos os níveis. Pesquisas internacionais recentemente divulgadas revelam o quanto estão inferiorizados nossos estudantes no que se refere à qualidade da educação. Numa aferição de 1 a 6 nos itens: leitura, aritmética e ciências, ficaram no ponto 1: jovens de 15 anos avaliados em todos os estados do Brasil. Precisamos, já e já, de nossos jovens na escola, em regime de dois turnos/dia e que ao término do curso médio deixe a escola com o saber e o diploma não só do curso médio, mas também de uma profissão, que a um só tempo atenda a sua vocação e às exigências do “projeto Brasil” de desenvolvimento.

        Dá uma tristeza muito grande constatar que nem LER sabemos. Esteve certo o Governo Federal em estabelecer, através de Lei, que nenhuma escola se instala, sem que tenha uma biblioteca e deu prazo de 10 anos para que todas as escolas assim providenciassem. Que essas bibliotecas não sejam depósitos de livros, mas um lugar provido de profissionais que fomentem o hábito da leitura.

        Não haverá desenvolvimento econômico e social sem educação. Compreendendo assim, quero crer, é que a Presidência da República encaminhou à Câmara dos Deputados o Plano Nacional de Educação, diretrizes e metas para a educação em nosso País nos próximos dez anos. Então é preciso que acompanhemos a tramitação desse projeto até a sua sanção em lei. Para melhora-lo se for o caso e, depois, exigir o seu cumprimento.

        Desejo ressaltar o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo movimento nacional “todos pela educação” de que é conselheiro o professor Mozart Ramos Neves, ex reitor da Universidade Federal de Pernambuco e ex secretário do governo de Pernambuco para os assuntos da educação. Como tomo a liberdade de indicar à leitura o livro “História da Educação e da Pedagogia Geral e Brasil” da admirável filósofa e respeitável educadora Maria Lúcia de Arruda Aranha.

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